quinta-feira, 27 de maio de 2010

E se eu fosse a Brigitte Bardot?

vi a face do meu ciúmes
e ele fala francês.


vulgar,
faria biquinho la Bardot para você
Oh oui oui oui, plus fort


isto se o francês
não fosse a língua
oficial do meu ciúmes.
Oh la la.

domingo, 16 de maio de 2010

... sobre turtle blues I



CONSIDERAÇÕES DE UM SÁBADO A NOITE...

Pula a janela. Salta a cerca. Anda pela madrugada vazia. Fuma um cigarro.


Entra no bar. Pede uma bebida. Senta no canto do balcão. Olha a volta. Observa...


Sobe no palco. Solta o cabelo. Dança o quadril no som do piano. Canta I´m a mean womannnn.



Coloca a língua na boca do último moreno antes da porta. Escuta o eco de seus passos. Acende o cigarro. Anda pela rua vazia. Volta para casa.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Sérgio e Clarice....grande coisa!??!

Enquanto tentava dedilhar o clássico do Led Zeppelin no violão, olhava para sua esposa do outro lado da sala que no teclado ensaiava o mais novo sucesso axé-pop que não saia da cabeça. Ela tinha envelhecido tanto nos últimos anos. Está certo, o pouco cabelo da sua cabeça e a barriga saliente, não o deixava em uma posição confortável no julgamento da velhice da sua esposa, mas, ela estava velha.


Clarice sozinha no canto do bar. Sérgio observou sua cara fechada enquanto as amigas dançavam. De longe Sérgio a viu e vai lá saber a grande coisa que o moveu a ter o interesse por Clarice despertado. Ela foi meiga quando ele ofereceu uma bebida, foi tímida quando ele quis pegar na sua mão, mas, sei lá a grande coisa que fez com que Sérgio descobrisse naquela mulher o amor.


Por um tempo a paixão o moveu a subir no palco e tirar da sua guitarra solos apaixonados para o deleite da sua namorada que vidrada nos olhos dele o admirava em lugares estratégicos dos bares que ele tocava. Depois, ela queria dormir cedo e não o acompanhava e depois, começou achar idiota o gosto do marido por aqueles solos de guitarra compridos e chatos noite afora e depois, com um bebe nos braços, que usava um pacote de fraudas descartáveis por dia, começou a achar um disparate o que ele ganhava como músico nas noites da cidade e depois, gritava com ele quando, em casa, trancado no quarto, fazia as crianças acordarem com o toque do violão afoito.


Como esposa dedicada, Clarice entrou nas aulas de canto e teclado e sabe lá a grande força que fez Sérgio ensaiar com ela a primeira música lalalala, eeeee . Foi assim que começou e assim terminou. O casal tocava em casamentos, formaturas, batizados e todo tipo de reunião de pessoas que precisavam de um barulho próximo de música para “animar” o ambiente. Ele aposentou a guitarra e virou adepto do teclado. Misturava todos os sons práticos, automáticos e mecânicos nos mil botões daquela maquina grotesca e deixava que a voz da mulher o levasse noite adentro com músicas de todo o tipo para que convidados bêbados e asquerosos dançassem em comemoração a um não sei do que, a um não sei para onde.


Sérgio, no fundo, sabia que a grande coisa o fez esquecer de tocar sua guitarra. A muito tempo não conseguia sequer olhar para ela e fazia anos que não abria a caixa de velhos discos empoeirada em um canto da sala. Não conseguia lembrar daquela época, não se recordava do que era escutar uma música e nem sequer se lembrava das partituras dos clássicos de rock e blues.


Tocava assim, na mecânica da diversão alheia o tecladinho de merda, enquanto a chata da Clarice cantava com a voz estridente as músicas nojentas. Sentia a acidez no estômago quando a insosa da Clarice bancava a estrela da família e tudo parecia um pesadelo quando reparava o filho adolescente, com a merda da boca aberta encarando por horas as bundas rebolativas das convidadas bêbadas nos salões esdrúxulos das festas caretas.


Dedilhava o violão. Mas, a voz da chata da Clarice não o deixava lembrar de Zeppelin. A grande coisa o fez querer mandar aquela mulher velha e insosa a merda. Cala a boca! Cala a boca, Sérgio.

- Sim, amor, estou indo, Cla…meu amor.

terça-feira, 4 de maio de 2010

ALGUM TEMPO DEPOIS...





Depois de um tempo te encontrei casualmente no aeroporto andando de um lado para outro com um menino de uns 5 anos no colo. Reparei nos olhos expressivos do garoto parecidos com os seus. Ele conversava, continuadamente, te olhando nos olhos. Observei tudo de longe. Você sem paciência para explicar a revista em quadradinhos, olhando de um lado ao outro, impaciente, procurando o pai do menino, você gargalhando atrapalhado com o sorvete. Sim, fiquei com vontade de chegar até você. Eram metros que nos separaram, pensei em passar na cafeteira e pegar um guardanapo de papel para te oferecer e aliviar seu desespero com o sorvete derretido pela roupa do menino. Depois, pensei em esbarrar despretensiosamente nas suas malas ou em somente dizer “oi” e te abraçar demoradamente. Pensei tanta coisa, enquanto apenas metros nos separaram. Então, você levantou os olhos enquanto gargalhava e me encontrou. A volta, tudo congelado e você me olhou. Sorriu, aquela expressão de encanto que eu tanto conhecia… Foi assim. Não fomos mais os mesmos depois que ela te encontrou afoita nestes metros que nos separaram. Ela te dizia coisas e coisas gesticulando ansiosamente, com aquele jeito que sempre imaginei que ela tivesse e somente se calou quando o restante das pessoas se aproximaram. Eu dizia palavras automáticas enquanto te via ao longe me olhando em desespero. A última vez que te vi, você estava se afastando dos metros entre nós e olhou para trás para me ver dar explicações para ele que não entendia as lágrimas que escorriam do meu rosto sem motivos. Fora dos metros, te via caminhar em desalento e já não fomos mais os mesmos depois do nosso encontro.