quinta-feira, 28 de maio de 2015

"ANDRADIANO"

Não facilite com a palavra amor.
Não a jogue no espaço, bolha de sabão.
Não se inebrie com o seu engalanado som.
Não a empregue sem razão acima de toda razão (e é raro).
Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão
de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra
que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.
Não a pronuncie.
 



 um terno bege de linho
um livro de poemas de Mario Benedetti na esquerda
na direita, uma rosa vemelha
no bolso, um anel de diamantes
e o corpo trêmulo na chegada.

era amor

não facilite com o amor
não cometa a loucura de disperdiçar
de espalhar ao mundo a insensatez da dúvida

não se exile na dureza da terra do seu coração.

i

segunda-feira, 11 de maio de 2015

LOUCOS


Meus heróis tinham coragem para perder suas vidas sobre um abismo
E tudo o que me lembro é ficar pensando, "Quero ser como eles!"
Desde pequeno, desde pequeno, isso parecia divertido
E, não por coincidência, acabei sendo!
E posso morrer quando estiver pronto!
Talvez eu seja louco.
Talvez você seja louca.
Talvez sejamos loucos.
Provavelmente



e tudo que me oferece é um prato de arroz e feijão
um copo de coca-cola
e um beijo gelado?

os loucos se reconhecem

e eu não vejo nada em você




sexta-feira, 8 de maio de 2015

SEU TEMPO ACABOU!





"....Eu vou esfregar um tango

No seu jeitinho serenata de encomenda
No seu estilo hip hop da fazenda
No se apeel de rap instrumental.."



o mundo girando a nossa volta a 300 km por hora
e ele ainda acha que Engenheiros é a melhor banda de rock do mundo

milhões de beijos na sua boca no coração palpitante 
e ele ainda acha que amor é sessão da tarde na televisão

óculos de sol comprado em Barcelona
olhar enterrado na terra vermelha do sertão

e o tempo esgotando
tic
tac
tic
tac.

acabou! 




quinta-feira, 7 de maio de 2015

OS TERRÍVEIS ACHADOS.










Chegaram todos juntos. No mesmo momento que me olhavam com reprovação, amarravam minha boca com tecidos com um gosto amedrontador de pólvora e vinagre. Fiquei imóvel esperando o próximo passo, mas, começaram a me observar como se fosse peça de algum museu exótico pelo mundo. Deixaram-me muda, é verdade.

Aos poucos o tremor do corpo foi passando e tudo que senti foi um grande frio mobilizante  tomar o corpo. Todos já me ignoravam! Conversaram sobre a vizinha, o senhor da esquina, o cachorro bravo. Estavam alheio aos acontecimentos. Estavam alheios ao que me fizeram. Estavam alheios ao frio de quase vinte graus negativos que tomou conta dos meus órgãos.

Não demorou muito e meu coração começou a descompassar e a bater rapidamente com o corpo imóvel, em uma tentativa desesperada de manter o controle. As palavras começaram a sufocar minha garganta e em um forte golpe, sabia, não bateria mais. Fui sentindo pequenas explosões no peito, até o golpe final. Imóvel. Ignorada.

Ainda não sei o que me faz perder a vida os pedaços de coração na garganta ou o coração explodido o estômago ou as palavras afogadas no resto do meu coração flamejante. o fato é que me mantive imóvel. O fato é que continuaram lá, sentindo o cheiro e conversando sobre o gosto da pólvora e do vinagre e conversando sobre tudo que eu sempre ignorei.

Liberdade, enfim.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

NA ENCRUZILHADA.


"...No espírito a gemer e em que só o tédio existe..." 


Flores do mal - Charles Baudelaire 




o tédio viciante
a superficial vontade
a teia de estratégias
caminho a um destino
uma grande encruzilhada!

sentou
fumou um cigarro
e decidiu-se

entre o tédio de certezas
e o benefício da dúvida

o grande e louco mistério da dúvida
a pulsar na veias
a colocar nos seus olhos a nunca entrega

ia morar na encruzilhada
em meio a desesperos
e galinhas pretas e velas coloridas

entre o temor da negra magia
e o aconchego do caminho em linha reta

ia morar na dúvida
na incerteza
na insônia
no disparar de coração
na louca sinapse descontrolada

Decidiu-se!
Por não decidir.