sábado, 31 de janeiro de 2009



entre EU e SEU desejo
MEU desejo de amor


uma la cu na enorme
de não amares

domingo, 25 de janeiro de 2009

A manhã já chegara ao fim quando decidiu finalmente seguir o caminho. Já não suportava olhar a mala sobre a cama e lembrar da insistência dos seus pensamentos duvidosos. Passou a noite entre pesadelos, delirando e revivendo o passado e o futuro em visões esparsas.

Parecia não ter forças para seguir em frente, mas, também seu corpo já não suportava a forma estática pelo qual tinha vivido por anos. Foi muito tempo adiando decisões, sentimentos e acumulando por dias a fio culpa e mágoa por situações vividas de maneira abafada.

Chegara ao fim.

Sua mala a espreitava. Havia no seu interior poucas coisas. Músicas, poesias, roupas de estimação, as máscaras que cultivara e sobre tudo, seus cadernos rabiscados e amarelados onde, por vários momentos, dividiu momentos solitários e hermeticamente introspectivos.
Levantou bruscamente e o chão sumiu dos seus pés, mãos frias, o quarto que começou a girar e o forte gosto de náusea veio a boca e viu cores e formas se transformarem. Estava dentro de um caleidoscópio. Suas mãos começaram a desmanchar em suor, já não sentia o pulsar do sangue percorrendo seu corpo e o gosto amargo se tornara insuportável. E um peso enorme sobre os ombros obrigou-a a sentar novamente. Fechou os olhos e um barulho ensurdecedor de grades e chaves fez com que uma nova realidade surgisse. Abriu os olhos e o que viu foram grades nas janelas e enormes cadeados colocados a porta.

Em um passe de mágica todos os sintomas desapareceram e um suspiro profundo fez com que relaxasse, aliviada. Olhou para sua cama, macia e aconchegante. Repetiu mentalmente para todas células do seu corpo: não havia maneira de sair daquele lugar. E repetiu novamente para todos os seus pensamentos e sentimentos: não havia maneira de sair daquele lugar. E repetiu agora baixinho para assimilar bem: não havia maneira de sair daquele lugar. E finalmente gritou com toda sua voz para os 4 cantos do quarto, da casa, do mundo: não havia maneira de sair daquele lugar.