quinta-feira, 25 de agosto de 2011

elvis e eu... (rascunho)




Talmo terminou seus trabalhos no computador do escritório da sua casa. Não era tarde, definitivamente, não era tarde. Ao afastar da mesa viu a luz do quarto dos filhos já apagada. Alongou os braços e pernas cansados pela tensão do dia e de todos seus pequenos problemas cotidianos que lhe consumiam. Ouviu o choro do menino mais novo e quase foi ao seu encontro, mas, antes disto, viu a sombra do corpo da Norma a sair apressadamente. Ele poderia ter trazido o garoto até o seu colo e afagá-lo, talvez o levar até o sofá cama pronto para dormir e chamar Norma para deitarem e, juntos, falar sobre as estrelas e as constelações. Talvez poderia encaixar seus pés nos pés dela e sem que ela se desse conta terminariam enlaçados com o garoto encaixado no meio de suas pernas. O menino adormeceria e os dois talvez dormiriam assim, se estivessem em acordo e apaziguados, mas, se Norma continuasse a passar seus pés macios sobre sua perna, saberia então que a poderia beijar, a tomar pelos braços. Saberia... Mas, o garoto mais velho dormiria da cama com Norma no quarto do casal e, Talmo não queria discussões e antes ...Norma apressadamente colocou o menino para dormir. Era tarde e os garotos tinham hora para levantar, hora para ficar acordados. Existiam horas e tempos a ser cumpridos. Esta era Norma obcecada por números, por padrões, por coeficientes aplicáveis. Porra, Norma, isto me entedia. Pensou. E o silencio se fez naquela casa, até que ela ligasse o chuveiro. Água escorrendo. E Talmo lá, olhando a tela do computador a olhar para o quase vazio de suas esperanças, até que passou por entre seus olhos um vídeo e ao observar as imagens sensuais da gritaria histérica das mulheres lindas por um único homem, lembrou de Norma e de sua paixão quase infantil por Elvis. Na verdade, tentou se lembrar se alguma vez desde conheceu Norma e seu delírio pelo defunto, sentiu ciúmes desta atração de Norma por um homem, ta, desconhecido e morto, mas, que poderia significar a atração dela por homens obviamente sedutores. Baita pensamento louco este, riu. A tempo não sentia ciúmes de Norma com seu jeito inflexível a regras de bom comportamento e era certo que isto o deixava em uma posição sentimental de conforto. Conforto, agora, que incomodava. Queria sentir ciúmes de Norma. Urgentemente. Queria urgentemente que algum desejo sexual movesse aquela sua mulher, mesmo que por outro homem. Norma, faça que eu sinta ciúmes de você!

O silêncio voltou. Ouviu o barulho do notebook ligando no quarto do casal e apertou rápido o botão ENVIAR da mensagem.

Talmo sentiu o coração disparar de excitação enquanto ouvia do outro lado do corredor do apartamento em silêncio do barulho de teclas. Silêncio. Teclas. Silêncio. E... guitarra distorcida. Gritinhos histéricos e You know I can be found...

A música em sombra ecoando e Talmo com olhos fechados imaginando os olhos de Norma vidrados no branco e preto dos trejeitos de Elvis a correr do sucesso e poder das garotas.Replay. E escutou a voz de Norma a acompanhar a letra I don't want no other Love, uau, ela continua desafinada como a anos atrás, mas, cantava com a mesma voz manhosa, se deliciando com os sonhos de amor a la Elvis.

Então, a voz foi se aproximando e Talmo abriu os olhos para ver no corredor a sombra de Norma se aproximando como uma gata se arrastando pelos cantos, parou na porta do escritório descalça, de regata colada ao corpo, que deixava a mostra parte da barriga e a lingerie com rendas nas laterais. Simples, como seu cheiro por todo lado. Colocou a mão na cintura a balançar de leve o corpo no ritmo da música que vinha de longe e abafada.

Norma conhecia as excitações de Talmo e depois de ver em seus olhos a excitação pelo momento, torceu seus lábios para o canto vagarosamente. Talmo se lembrou do mesmo movimento feito pela mulher do vídeo, viu desejo nos olhos de Norma, não se lembrou do ciúmes necessários, só a beijou e a beijou novamente e novamente e queria a beijar sempre , sempre e para sempre...


Um comentário:

Arnoldo Pimentel disse...

Um texto que nos prende em sua originalidade e beleza.Beijos