terça-feira, 21 de abril de 2009

A "la doce vita" I

ELE.


Pela imagem rápida do carro em movimento viu novamente a imagem DELA perto de uma fonte próxima do restaurante que acabara de almoçar, eram relances de imaginação e realidade que estavam se misturando desde que chegou a cidade, o lugar onde sonhara visitar com ELA. Fechou seus olhos e se lembrou DELA nua nos lençóis com seus gestos teatrais dizendo entre risos e devaneios, a sua vontade utópica de viajar pelo mundo fotografando fontes e chafarizes. Impossível naquele instante não se imaginar sempre de mãos dadas com ELA nas ruas de Roma, andando pelas praças e ruelas, escutando seu riso e sua cara de contentamento pelas novas imagens da vida…e ainda quando ELA o deixou sem fôlego com um beijo quente apertando seu corpo nu contra o dele, ele a quis nas ruelas escuras entre um e outra parede em obscuros desejos pelas madrugadas romanas.

Abriu seus olhos e voltou-se para dentro do carro… Quando Elizabethe no meio de toda tribulação disse que queria ir para Europa, não teve tempo ou paciência para escolher o roteiro, aceitou tudo e enquanto ela descrevia as maravilhas que queria ver e rever, não a escutava em nenhuma palavra, estava preocupado com as dificuldades financeiras para manter os negócios . Aliás, se deu conta que a meses não escutava Elizabethe. Olhou para ela ao seu lado no carro e se deu conta que a meses não via Elizabethe. Nesta olhada em relance reviu seu rosto fino e seu mexer de boca em palavras repetitivas e sem energia, suas roupas, que cobriam uma pele amarelada sem viço, rodeavam sempre o mesmo estilo, com calças bem cortadas de cores escuras e blusas em tons pastéis. Ficou entediado, olhar para qualquer coisa de Elizabethe, podia dizer que a anos, o deixava entediado, ela era uma mulher elegante, bem articulada, uma boa amiga e companheira para eventos em família e sociais, mas, a tempos não sentia desejo ou vibração por ela. Repetia em sua cabeça o quanto Elizabethe o entediava.


Fechou demoradamente seus olhos e a imagem DELA na primeira vez que a viu, veio a mente, seus olhos que se desviam dele, sua boca que soltava palavras agradáveis que prenderam seu interesse, sua mistura interessante de menina e fêmea…. A desejou naquele primeiro instante, quis saboreá-la durante dias sob conquistas em jogos de palavras livres, sem sublinharidades ou atos presos em dúvidas de entrega.

Abriu os olhos, ainda estava no mesmo carro, agora parado em um sinal fechado e sentiu o perfume adocicado de Elizabethe

Fechou-os novamente, e estava nos braços DELA em uma paixão que seguiu um ritmo
livre em meses intensos o que o fizeram sentir a vida pulsar de uma maneira nova, renovando suas expectativas, seu corpo, seus pensamentos e seu ânimo de viver.

Abriu seus olhos e respondeu mecanicamente as perguntas de Elizabethe.

Fechou os olhos, e sentia o calor acolhedor da alegria DELA em noites que sempre começavam com longas conversas sobre suas vidas, seus cotidianos, suas visões de futuro, seus sentimentos e madrugadas que se seguiam em beijos longos libidinosos e entrega perfeita de corpos em brasa em sintonia profética perfeita!

Abriu os olhos, e viu suas mãos sob as pernas e as mãos de Elizabethe que gesticulavam sem parar em palavras que pareciam sempre ser sempre as mesmas

Fechou os olhos, e sorriu para ELA ao lembrar de como era doce e intensa as longas ausências um do outro curtidas em conversas cheias de volúpia e imaginações loucas que o fazia desejá-la urgente em quaisquer circunstancia.

Abriu seus olhos, e ouviu Elizabethe perguntando sobre a maison de um famoso estilista italiano e como, por meses a fio, teve que dar explicações sem fim sobre sua súbita ausência momentânea.

De olhos abertos, A viu andando altiva e esvoaçante na rua com a mesma roupa preta colante e fina de um dos primeiros encontros, cabelos loiros enrolados ao vento e por um encontro de olhares que resultou em um sorriso acolhedor e faiscante, misturou presente e passado, imaginação e realidade…


Pare o carro, ordenou.



Com a mesma calma e racionalidade que nunca, sob hipótese nenhuma o abandonava, explicou a Elizabethe a vontade de andar pelas ruas e depois de fechar seus olhos e sentir a flor da pele sua vida, os abriu, e deu um basta, dizendo que a encontraria no hotel.

Viu-se livre e perto de suas lembranças.

ELA estava por todo lugar, viu sua imagem e ouvia suas palavras e risadas em cada momento, se sentia enlouquecido pela dor e frustração que estas lembranças lhe causavam. Os sentimentos deliciosos que os meses com ELA na sua vida pareciam tão distantes…Não os vira perdendo. Não pressentiu o tempo passando. Não percebeu que estava deixando seu desejo por ELA sem prioridade em nome de um cotidiano de compromissos e pressões que vinham por todas as direções. Ele, a observou sair da sua vida com tanta calma e resignação, que não possível despedidas ou lamentos, simplesmente ELA saiu de cena. Agora, que ao acalmar da vida, longe de tudo e sozinho com Elizabethe percebeu todos os sinais que ELA lhe dera, seus olhares decepção em cada explicação para não alongarem encontros, para cada possíveis encontros não realizados, para cada conversa rápida sem atenção. ELA foi se retirando, foi deixando rastos com dignidade e segurança. Não chorou, não esperneou, apenas o alertou sobre a possível perda um do outro. A perdeu sem perceber, sem querer…


Racionalmente, como sempre em todas as suas decisões, tomou um uísque em algo parecido com um pub, se acalmou.
Na primeira dose, com a melodia de uma música de Madeleine Peyroux na cabeça, pensou em ligar para ela. Na segunda, se sentiu acolhido pela vida. Decidiu que fecharia seus olhos somente ao dormir no quarto de hotel ao lado do tédio cômodo de Elizabethe. Usando a mesma razão a fez longe dele, a afastou dos seus pensamentos , abriu os olhos para o ritmo incontrolável dos sentimentos na ordem burocrática que involuntariamente, escolheu para os anos que viriam….

5 comentários:

heglisk disse...

Ca - ra - le - o, le-le-o, le-le-o!
Vc arrasou amiga!!!!! Parabéns!
Bjus

AnNa G. disse...

o pior de tudo é que sonhamos em ser elizabeths e quando chegamos lá queremos ser a loira de tubinho preto e cabelos esvoaçantes...ahh o ser humano!
lindo....aguardo cenas dos proximos capitulos!

Anônimo disse...

a vida é um inevitável TUDO...
resta-nos a circulação por entre...
bom texto
g

AnNa G. disse...

esta cena do filme foi recriada no filme "sob o sol da toscana" lindo!

Anônimo disse...

Ah, a vida... Sempre se está imaginando como o que "foi" é melhor do que o que "é". Sempre se procura alento em alguma memória que nos seduz para a época da felicidade, como se ser feliz agora fosse quase uma tarefa impossível.
Lindo texto. Linda poesia. Forma inigualável de descrever sentimentos.
Sou tua fã!