terça-feira, 14 de setembro de 2010

a festa,






Observando…


As moças dançavam ao som da música que crescia em ritmo e empolgação. Sambavam e rodopiavam seus cabelos soltos na fumaça envolvente do ambiente a rebolar os quadris insinuantes. Trocavam olhares e palavras ao pé-da-orelha entre si e com rapazes a volta que não se deixavam envolver, alienados nas cervejas, nas vodkas, nos cigarros, nas conversas entre amigos e desconhecidos que chegavam a todo instante a comemorar o 11 de setembro, armando assim, posições de defesa em um campo de guerrilha. Esculhambados, com o ataque veroz , muniram-se de estratégias etílicas, mas, não havia tempo suficiente. A sala esvaziou-se da libido feminina e onde se olhava não se via as meninas escondidas em outros cantos da casa.


Como bebês chorões viram-se no desespero longe das suas casas, das suas mulheres, das suas conquistas e vitórias. Restava a miséria do dinheiro no bolso, o frizer cheio de cervejas e o alento das fotos de Che Guevara nas paredes.


Já se ia meados da madrugada, viam-se restos espalhados por todo o lado e o rapaz, que desfilava sua camiseta vermelho sangue: “ai Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”, resgatava seus amigos decaídos e perdedores dos escombros.


Pula de la madre, malditos comunas, fui embora sozinha.

2 comentários:

Anônimo disse...

Como sempre, doce Medulina, usas a agudez dos teus sentidos para lapidar as palavras e desnudar o aparente. Porque, sim, a alegria escondia uma solidão daquelas pessoas, um não se envolver, redomas anti-aproximação, sei lá.

O que eu sei é que lhe adoro.

(Tiberius Claudius)

josé roberto balestra disse...

Renata, mais uma de suas belíssimas crônicas, tão a seu esmero, hem? Admiro-a nessa arte. Você consegue ao mesmo tempo ser especialmente paradoxal nas suas criações, escrevendo textos fragmentariamente resumidos, mas sem deixar a gente seu leitor perceber falta alguma. Técnica singular. Não pare nunca! ...e vá pensando (se já não o estiver) em produzir seu livro, seja de crônicas, contos, romance ou novela, viu? Você tem demonstrado que sabe muito bem fazer as tramas. Sou seu fã. abs