domingo, 8 de março de 2009

para todas as mulheres que conheço e admiro!












Sim, se você trocasse
a boêmia pela classe;
A classe agiria em você
e Ihe daria um norte.
E a classe por acaso
mata a sede com xarope?
MaiacovisK



Pela noite escura adentro, deixou-se cair pela rua sentando aos risos com sua nova turma de amigos encontrada no bar do centro da cidade, onde se concentrava uma boémia pseudo-intelectual metida a querer sugar dos bares os subterfúgios da vida sem responsabilidades. Ali, rindo de uma maneira exaltada e quase teatral, em entrega total a sorte do destino, consumia o final do seu dia, que tinha começado de uma maneira tão insuportável, quanto a dor de se manter sóbria. Esqueceu-se em um canto por momentos e novamente a imagem dele em sua diferença veio a mente e em seus pensamentos embriagados sua face foi transformada um grande personagem de filme de terror, com dentes monstruosos salivando, olhos enormes vermelhos e dedo em riste a apontando entre gargalhadas.

Então ali, naquele canto encolheu-se na sua posição fetal, e chorou. Escorreu em lágrimas, sentindo o hálito dele acima da sua cabeça repetindo as mesmas palavras ditas horas atrás, mas com rigor trágico e aterrador que a fazia tremer inteira. Mergulhada em um grande buraco negro, com a força das frases dilatadas, veio a mente momentos que fizeram dele o grande homem que tinha passado pela sua vida, os melhores encontros de sua mísera existência, via estes momentos congelados como em fotografias voando em um grande roda moinho do tempo.
Consumida

Sugada
Abriu seus olhos e absorveu o vento trazendo em uma voz distante seu nome a colocando numa postura, ereta e firme, na realidade. A sua frente a face enternecida de sua amiga e seu convite urgente de seguir adianta, a fez sair em um pulo do torpor. Saiu a rua, acompanhada, pelas ruas estreitas de pedras, cantalorando canções castelhanas aos berros até chegar um lugar obscuro que soltava do seu interior sons de risos e gaita, dentro, uma voz rouca de um estranho barbudo começou os acordes de Hoochie Coochie Man.
Sentiu-se invadida por aquela música que sempre a moveu a bons e livres sentimentos, então, tirou a o casaco que a envolvia, muniu-se de um cigarro e uma taça de vinho e em meio a desconhecidos e ausentes, dançou. Cantou. Sorria livre, rodopiando quase que em transe envolvida a frescas ideias de futuro. Próximas férias a ser planejadas em um lugar que sozinha sempre sonhou; noites livres para passar acordada rindo com amigos ou sozinha lendo, divagando no seu diário e ouvindo música; pensar no futuro com sonhos próprios; colocar suas roupas, sem precisar ser a mulher de classe que nela ele sempre enxergou; se apaixonar uma, dois, três vezes sem comprometimento ou expectativas; tirar o ar blasé do rosto de mulher resignada; não avisar por onde anda, por onde quer ir, por onde pode leva-lo; ter sentimentos livres, sem se preocupar em amansar suas dúvidas, seus arrombos de expectativas; não enquadrar nele sua fome de viver; jogar fora a balança de defeitos e qualidades… tanta coisa…. Tantas possíveis mudanças…

Seus planos foram interrompidos por palavras como linda e nome, ditas por um homem insistente de aparência forte que estava ao seu lado. Olhou impávida para ele, incomodada, viu o ambiente cheio. Queria espaço, queria estar só. Não queria dizer o nome, não queria se sentir linda ou feia, necessária ou descartável, desejada ou amada, espirituosa ou introvertida. Queria estar só.

Sozinha e imóvel por minutos, parou seus olhos em um relógio antigo na parede e o tudo silenciado no seu interior, fez com que ouvisse o tic-tac chamativo, hora de ir para casa. Vestiu-se de ebriedade e passou de ombros ao homem alto e saiu.

Ao longe, ouvia-se na madrugada silenciosa a força dos seus passos, as pedras escorregadias da rua receberam seus novos caminhos e ela, caminhava, não pensava na chegada ou no horizonte distante, simplesmente andava…

3 comentários:

AnNa G. disse...

Essa sou eu: Admito, CULPADA! Culpada de estar viva e ter sentimentos, culpada de não conseguir blindar minha vida, minh alma...culpada de prometer amor eterno e não ter certeza se vou conseguir...culpada de amar e desamar tantas vezes, essa sou eu!
culpada de as vezes querer sair sem olhar pra trás, culpada eu de ser social e sociável,mas por dentro quero anarquia! não fosse esse nome tão parecido ao meu eu quereria ANNArquia!
culpada pelas pedras e pelo barbudo rsrsrsrsrsr
culpada pelo mundo, mas talvez serei remida por Deus!
preciso respirar!
bj

AnNa G. disse...

ahhh eu já ia me esquecendo, gente esse furacão literário é minha amiga wow!

Cynthia Lopes disse...

Renata, que tanto feminino! Neste lugar de estar só, ir para casa, consigo mesma, uma conquista. Adorei. bjs