terça-feira, 2 de março de 2010

lola e brigitta




PARTE III: A CASA




Lola sentiu o macio dos lábios molhados. Ela e o rapagote corriam pelas ruas da cidade, após roubarem frutas em exposição na banca da mercearia, exaustos pararam em um beco vazio rindo e se deliciando com o sabor das framboesas. Descreviam a cara do pobre homem e seus olhos de raiva, quando o rapaz começou a fita-la. Tudo silenciou e ela acostumada a mil pensamentos, a mil olhares ao mesmo tempo, não conseguiu deviar do olhar fixo do amigo. Enquanto escutava a respiração no mesmo compasso do seu coração aos pulos, deixou-se envolver pelas mãos do rapaz que acariciava suas costas com sutileza . Sentiu-se tonta e com os pés fora do chão. A junção dos lábios, das mãos nas costas, da proximidade do rapaz, da respiração, do coração aos pulos a fez parecer querer explodir a qualquer momento, correu… Correu… Correu….E só parou quando estava a frente da casa de Brigitta...Brigitta, Brigitta, Brigitta…Chamava desesperadamente e só se acalmou ao ver os olhos misteriosos de Brigitta olhando para os seus. Brigitta balançava a cabeça já imaginando que a amiga havia aprontado. Sim, havia aprontado. Mas, precisava ir para A CASA.

O tempo fizera não ter necessidade a descrição de como se sentiam ou o que pensavam uma para a outra. Suas características, qualidades e defeitos se misturavam, se completavam como em um quebra-cabeça montando uma harmonia perfeita de um relacionamento fraternal. Lola sempre tinha a palavra certa para consolar Brigitta nos seus medos. Brigitta, sempre tinha o tom certo para repreender Lola nos seus impulsos pela vida. Juntas, se tornaram as melhores alunas do colégio, desenvolveram um elo de harmonia com suas famílias.

Lola encontrara na família de Brigitta a fonte para todo conhecimento de vida que tinha sede. Adorava admirar os olhos perdidos de Ana, a mãe de Brigitta, e ouvi-la contar sobre histórias da Grécia antiga e ver seu marido, Jean, o pai estrangeiro de Brigitta, tocar o clarinete até as lágrimas. Se embriagava com a falta de horário e rotina da casa, com a liberdade em se estar no presente, passado e futuro, sem dramas ou cobranças.

Brigitta sempre que chegava na casa de Lola procurava quase em desespero Luiza, a mãe de Lola. Ela sempre a acolhera com um abraço apertado, um beijo estalado e um afago nos cabelos. Elogiava seus olhos e sua graciosidade, depois, as três sentavam a mesa e se deliciavam com as comidas feitas com maestria, enquanto conversavam sobre tudo que acontecia na escola, no bairro e no coração de cada uma. Quando Charlie, pai de Lola, chegava, era uma festa silenciosa, ele as beijava na testa com calma e tranquilidade. Sua postura e porte físico forte, dava toda a proteção que a casa simples precisava. Brigitta adorava ficar no quarto de Lola, ouvindo a conversa do casal. Elas se deliciavam com a maneira manhosa que Luiza manejava sua voz para chamar pelo marido e a imitavam com saltos altos e baton nos lábios de frente ao espelho: Chãrrrrrrrrrrliiiiiiiiiiié!

Lola e Brigitta se fizeram livres desde que se conheceram. Se livraram da dependência sentimental e simbiótica das suas famílias. Involuntariamente uma liberdade sentimental e intelectual sedimentou-se, pela simples confiança que tinham na cumplicidade incondicional da amizade. Cresciam e amadureciam tendo como espelho uma a outra e por tudo isto a autoconfiança de seus pensamentos e atitudes fazia delas meninas felizes e com sonhos mirabolantes para o futuro!

A Casa, era um velho rancho abandonado no meio de um bosque a beira do rio que as meninas haviam adotado como esconderijo para seus segredos, seus velhos livros de poesia, as roupas e sapatos antigos de suas mães e todo tipo de quinquilharia. Era ali que tinham as conversas sérias, revelavam os segredos e liam e reliam velhas histórias e criavam suas próprias .

Assim que chegaram na Casa…

2 comentários:

Hegli disse...

UAU! Cada vez melhor essa estória heim...
Chego a perder o folego prendendo a respiração para ler o texto até o fim, numa só tacada!!! rs
Maravilhosos amiga, isso vai virar um livro, um roteiro, uma novela... quem sabe...
Parabéns! E bjus

AnNa G. disse...

Amo essas duas, quem sabe um dia num me torno uma delas! affffff