terça-feira, 11 de maio de 2010

Sérgio e Clarice....grande coisa!??!

Enquanto tentava dedilhar o clássico do Led Zeppelin no violão, olhava para sua esposa do outro lado da sala que no teclado ensaiava o mais novo sucesso axé-pop que não saia da cabeça. Ela tinha envelhecido tanto nos últimos anos. Está certo, o pouco cabelo da sua cabeça e a barriga saliente, não o deixava em uma posição confortável no julgamento da velhice da sua esposa, mas, ela estava velha.


Clarice sozinha no canto do bar. Sérgio observou sua cara fechada enquanto as amigas dançavam. De longe Sérgio a viu e vai lá saber a grande coisa que o moveu a ter o interesse por Clarice despertado. Ela foi meiga quando ele ofereceu uma bebida, foi tímida quando ele quis pegar na sua mão, mas, sei lá a grande coisa que fez com que Sérgio descobrisse naquela mulher o amor.


Por um tempo a paixão o moveu a subir no palco e tirar da sua guitarra solos apaixonados para o deleite da sua namorada que vidrada nos olhos dele o admirava em lugares estratégicos dos bares que ele tocava. Depois, ela queria dormir cedo e não o acompanhava e depois, começou achar idiota o gosto do marido por aqueles solos de guitarra compridos e chatos noite afora e depois, com um bebe nos braços, que usava um pacote de fraudas descartáveis por dia, começou a achar um disparate o que ele ganhava como músico nas noites da cidade e depois, gritava com ele quando, em casa, trancado no quarto, fazia as crianças acordarem com o toque do violão afoito.


Como esposa dedicada, Clarice entrou nas aulas de canto e teclado e sabe lá a grande força que fez Sérgio ensaiar com ela a primeira música lalalala, eeeee . Foi assim que começou e assim terminou. O casal tocava em casamentos, formaturas, batizados e todo tipo de reunião de pessoas que precisavam de um barulho próximo de música para “animar” o ambiente. Ele aposentou a guitarra e virou adepto do teclado. Misturava todos os sons práticos, automáticos e mecânicos nos mil botões daquela maquina grotesca e deixava que a voz da mulher o levasse noite adentro com músicas de todo o tipo para que convidados bêbados e asquerosos dançassem em comemoração a um não sei do que, a um não sei para onde.


Sérgio, no fundo, sabia que a grande coisa o fez esquecer de tocar sua guitarra. A muito tempo não conseguia sequer olhar para ela e fazia anos que não abria a caixa de velhos discos empoeirada em um canto da sala. Não conseguia lembrar daquela época, não se recordava do que era escutar uma música e nem sequer se lembrava das partituras dos clássicos de rock e blues.


Tocava assim, na mecânica da diversão alheia o tecladinho de merda, enquanto a chata da Clarice cantava com a voz estridente as músicas nojentas. Sentia a acidez no estômago quando a insosa da Clarice bancava a estrela da família e tudo parecia um pesadelo quando reparava o filho adolescente, com a merda da boca aberta encarando por horas as bundas rebolativas das convidadas bêbadas nos salões esdrúxulos das festas caretas.


Dedilhava o violão. Mas, a voz da chata da Clarice não o deixava lembrar de Zeppelin. A grande coisa o fez querer mandar aquela mulher velha e insosa a merda. Cala a boca! Cala a boca, Sérgio.

- Sim, amor, estou indo, Cla…meu amor.

2 comentários:

josé roberto balestra disse...

Havia tempos eu não lia uma crônic'assim, que fizesse m'sentir meio Sérgio, e pasme, até meio Clarice também. Um primor. Muito a ver com minha vida de ex m´sucio profissional.

Muito bom também conhecer seu blog. A gente anda carecendo d'coisas assim, descompromissadas, alegres. E quando fala de música então... meu coração treme todo.

Guardo ótimas lembranças de Nova Esperança, cidade que me acolheu muito bem quando, aos 17 anos, fui gerente da seção de peças da Canel (a antigona, ainda filial da Comapa, Paranavaí). Eu era um capazinho de cabelos longos, que tocava na banda "O Embalo" (Pvi), e aos domingos, por volta de meia-noite e meia, encerrava a brincadeira dançante que tocava no Tênis Club (Pvi) e corria pra Rodoviária, lá pertinho, pegar o último ônibus da Garcia pra "Capelinha"...

Tempo bããão, sô! A gente era feliz... mas eu sabia! (rsrsrsrs)

Obrigado, Renata, pelo carinho da visita lá no bloguinho e o convite. Precisamos sim valorizar as coisas da cultura de nossa região.

Já linkei seu blog como um dos meus recomendados.

abs

Cynthia Lopes disse...

Posso lhe dizer que sofri, sofri mesmo com a Clarice e com o Sérgio. Mas adorei ouvir o Led! E a coisa mais triste do mundo foi ver Robert Plant, meu anjo dourado, depois de tanto tempo, com aquela cara de maracujá de gaveta (oh, tristeza!), nos palcos do Rio de Janeiro. Mas não faz mal, pra isso existe a internet e eu posso guardar, para sempre, a imagem daquele anjo.
bjs