terça-feira, 22 de junho de 2010

Carol e Ro, nossos amigos.

Carolina virou para o lado, colocou o copo vazio na mesa e dormiu. Rodrigo ficou ali, com os olhos sem conseguir fechar. A força da frieza das palavras dela ainda ecoava em seus ouvidos.

Rodrigo sabia que Carolina não era lá estas mulheres de intensidade e sua superficialidade pela vida e sentimentos o enchiam de tédio e indignação. Mas, era inegável que a previsibilidade da namorada o deixava em uma situação confortável. Depois, Carolina, tinha um corpo até que bonito e era sempre tão mansa… Desde que conheceu Carolina, sempre teve os sentimentinhos, de garota medíocre, voltados para ele. Tá, ele concordava que não era nada difícil manter uma mulher como Carolina sob controle, mas, Rodrigo não se sentia homem o suficiente para ter na vida, uma mulher a mais que aquela garota que dormia na mesma cama que ele, só que a quilómetros do seu corpo. Foi assim que tudo se encaminhou para o namoro longo que ele não conseguia, e nem sabia se queria, se libertar.

Ficou ali, no escuro. Amargo e acuado, ruminando a frieza que Carolina o vinha tratando nos últimos dias. Ela sempre foi morna, dizia “eu te adoro”, como dizia “vou na esquina”, o desejava com a força de um rato mas, desdém…? Não poderia suportar isto de uma mulher tão pífia como Carolina. Mas, não tinha mais saco de fazer algo a mais por Carolina, ela tinha que se satisfazer por tê-lo como namorado bem posicionado e um futuro marido para acompanha-la nos eventos de família! E ela ainda o desdenhava…?

Levantou da cama inconformado, se achando o maior merda do mundo, andou de um lado para o outro do lado, lançando olhares fulminantes a Carolina que dormia, com a boca aberta, profundamente. Sentado na poltrona posicionada a frente da namorada, discou o número da moça que trabalhava na loja da frente ao seu trabalho. Foi uma conversa de uns vinte minutos, com sua voz baixa e provocativa, destilou insinuações a moça do outro lado da linha que correspondia as suas palavras com malícia e interesse. Suas risadinhas e elogios estratégicos, combinados a olhares furiosos a moça que dormia, ressoavam no quarto como atitude sádica e diabólica e Rodrigo um vulto forte e indomável.

Antes de voltar para cama, escovou seus dentes olhando para o espelho que refletia a imagem de um homem poderoso. Foi assim que dormiu tranquilamente e nem se deu conta dos quilómetros que o afastavam de Carolina, ali, na mesma cama que ele.

2 comentários:

josé roberto balestra disse...

Uma belíssima crônica, Renata! Muito prazerosa de se ler.

Iluminadamente você “viu” uma cena de amantes hoje já corriqueira nesse mundo moderno, mas que poucos – sobretudo uma escritora – sabem captar o que vai, no instante do fato, na mente dos “Rodrigos”. Você conseguiu.

Mas o mais importante de tudo – em minha opinião, é claro! – é que você faz a gente “viver” a cena, o teatro do que se dava no quarto das personagens. Até a poltrona em frente à cama consegui enxergar no texto: em mogno, verniz brilhante, assento fofo, em veludo café, braços altos...

Um primor. Parabéns! Sou seu fã.

aluisio martinns disse...

Muito bom. Intenso e realista. Coisa de vida real, narrada com a crueza que poucos ousam. Coragem com talento. Admiro isso.